Ananse e as histórias do Deus do Céu
A aranha Kwaku Ananse, certa vez, vendo que não havia mais histórias para contar na terra, desejou comprar as histórias do Deus céu, Nyankonpon, que este guardava numa urna feita de ouro. Para tal, fez uma imensa teia, que alcançava até o céu. Lá chegando, foi ter com o rei, que morava num imponente palácio, cercado por conselheiros, com o chão repleto de pessoas imponentes, que cercavam o rei em seu poderoso trono. Todos pararam ao ver Anase, que apesar de ser famoso, nunca havia ido até o Deus do céu, a quem depois de se curvar disse que queria comprar as histórias. O Deus céu riu muito, sem parar, e com toda a corte. Depois de dominar a própria hilaridade, disse:
- O preço de minhas histórias, Ananse, é que você me traga Onini, a grande jibóia; Osebo, o leopardo de dentes terríveis, Mmboro as vespas que picam como fogo, e Mmoatia o espírito que nenhum homem viu. – ao responder, pensava que Anase ia desistir, mas ele apenas disse;
- Pagarei o preço e juntarei a ele minha mãe, Nsia. – o rei novamente gargalhou e disse:
- Ó Ananse! Como pode você, tão pequenino, pagar meu preço, onde tantos e tão poderosos reis preferiram desistir?
Ananse nada respondeu, apenas descendo por sua teia. De lá. Caminhou até sua casa, onde se avistou com a mulher, Aso e disse o que fizera. Depois de contar, perguntou:
- Como posso agarrar Onini?
- Vá pegar um pouco de trepadeira e um galho de palmeira, e venha ao riacho onde ela toma banho de sol. Depois de providenciar tudo, ambos foram até o local, e lá chegaram desataram a discutir furiosamente:
- É maior do que ela! – dizia Aso
- Você mente – retorquia Anase – é do tamanho dela!
E ambos, sem se preocupar se Onini ouvia ou não prosseguiam a discussão. Pouco tempo depois á jibóia se aproximou, curiosa com as vozes que a incomodavam e disse:
- Que se passa? Porque discutem assim?
- Minha mulher diz que você é maior que esse galho de palmeira, e eu digo que não! – falou Ananse. Onini sorriu, sua língua silvou e disse:
- Vou me deitar nesse galho. Assim poderão ver quem está certo. – e assim fez. Quando ela se estendeu em toda o seu tamanho, Ananse pegou o cipó de trepadeira e a amarrou bem apertado, levando-a para perto de uma árvore. Depois disso, começou a pensar em como pegar Mmboro, as vespas que picavam como fogo. Novamente Aso disse a Ananse o que fazer. Assim, pouco depois, lá ia Ananse com um pedaço de grossa folha de bananeira e uma cabaça com água do riacho, para junto da árvore onde as vespas descansavam. Lá chegando, esperou um pouco, e quando elas estavam distraídas jogou sobre elas quase todo o conteúdo da cabaça, e mais um pouco sobre a folha de bananeira. Foi uma algazarra, e ele disse depois de uns minutos:
- Vespas, está chovendo! Eu tenho essa folha de bananeira, mas vocês estão sem abrigo, e podem estragar as asas! Rápido, entrem nessa cabaça! – e todo enxame terminou por entrar naquele recipiente. Ananse, depois delas entrarem, colocou a folha de bananeira e tampou a cabaça.
Indo de volta para casa, passou por acaso pelo riacho onde Osebo costumava beber água. Teve uma idéia, e cavou célere uma cova funda, depois teceu uma teia bem forte no fundo do buraco. Cobriu eles com folhas de árvores, levou a cabaça com Mmboro para a árvore onde Onini estava amarrada e foi para casa. No dia seguinte Osebo estava preso na teia, e ele levantou o leopardo com a ajuda de uma corda, depois o prendendo junto com Mmboro e Onini. Enquanto isso ia pensado em como agarrar Mmotia, o espírito que nenhum homem nunca havia visto. Depois de muito pensar, encontrou um galho de mpingo, que havia sido derrubado por um raio, e teve uma idéia. Esculpiu uma boneca com muita habilidade, dando a ela a aparência de um ser humano. Depois disso, passou em casa e mandou Aso cozinhar o mais delicioso mingau de mandioca que ela sabia fazer. Feito tudo isso, colocou a boneca com uma tigela de cobre onde estava o mingau, em um lugar que sabia que Mmoatia vinha dançar, não sem antes passar, da cabeça aos pés na boneca, uma gosma pegajosa de uma árvore. Pouco depois, lá vinha Mmoatia dançando com muita intensidade e vigor, como só os espíritos sabem dançar, brincando com os outros espíritos seus amigos. Depois de toda essa algazarra, enquanto os outros iam embora, ele viu a boneca e o mingau, e sentindo o cheiro e com a fome apertando, foi pedir um pouco de comida:
- Boneca de madeira, poderia me dar um pouco de mandioca? Tenho muita fome. A boneca nada respondeu, e nem podia! Mmoatia, que era genioso como todos os espíritos, se enfezou e esbofeteou a boneca, ficando com a mão presa! Muito contrafeito, e ainda zangado, Mmmoatia disse:
- Se não me soltar, boneca de madeira, vou te dar outro tapa! – dito e feito! Dessa vez a mão esquerda ficou presa na resina gosmenta. Mmoatia ficou tão zangado que de novo tentou chutar a boneca, mas só conseguiu derramar o mingau que queria comer e ficar com os pés e as mão presos. Depois disso, Ananse veio e levou Mmmoatia para junto de Onini, Osebo e Mmboro. Passou mais um dia, enquanto ele ia ter com sua mãe, para buscá-la e levá-la até o céu, onde ia dá-la como parte do pagamento pelas histórias.
No outro dia Ananse prendeu todos com força no saco que sempre levava as costas, e junto com a mãe galgou a teia gigante que ia até o céu, pata chegar ao palácio de Nyankonpon. Este estava numa festa com os outros Deuses, e ao ver Ananse chegar chamou seus amigos e disse, muito alto:
- Vejam! Eis que vem Ananse, a aranha, de certo pequenino mas com astúcia sem igual! Pois ele capturou Onini, a grande jibóia; Osebo, o leopardo de dentes terríveis, Mmboro as vespas que picam como fogo, e Mmoatia o espírito que nenhum homem viu, além de me trazer sua velha mãe Nsia como pagamento por minha histórias! Reis e Deuses tentaram, antes comprar, mas nenhum deles conseguiu! De hoje em diante presenteio Kwaku Ananse com minhas histórias, que serão chamadas de “Histórias da Aranha”! – E deu a Ananse a preciosa urna, com novas histórias, que ele levou para a terra.
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