sábado, 7 de maio de 2011

LENDAS AFRO E BRASILEIRA "" IARA, RAINHA DOS RIOS ""



DEUSA IARA
Quando a feiticeira Circe, aconselhou Ulisses à amarrar-se no mastro de seu navio e tapar com cera as orelhas de seus marinheiros para que não pudessem ouvir o cântico das sereias, já se tinha notícia do perigo das suas doces vozes e de quanto elas eram fatais.
Mas quem eram estas sedutoras e encantadoras criaturas, cujo canto não resistiam os homens e atendendo aos seus apelos eram mortos e devorados?
As Sereias estão associadas ao grupo das divindades da morte, como as Harpias e Eumênides. Segundo a lenda, viviam no litoral sul da Itália. Possuíam à princípio, o corpo de um pássaro com busto e rosto de mulher. Mas com o tempo mudaram sua aparência. A metade pássaro de seu corpo foi substituída pela cauda de um peixe.
Na antiguidade, seu mito ligava-se ao culto dos mortos. Isto também mudou e apenas o documentam as estátuas de sereias nos sepulcros.
A Sereia apareceu no Brasil trazida pelo colonizador português e já chegou aqui como sendo uma mulher-peixe, registrada no fabulário ibérico de século XV. O sincretismo deu-se facilmente somando-se ao conhecimento indígena, surgindo a Mãe D'Água, como uma das muitas mães de concepção das tribos aqui presentes. Mesmo assim, estes registros não são tão antigos, pois não foi encontrado nada a respeito nas crônicas do período colonial. Não se conhece nenhum documentário brasileiro fazendo menção à mãe d'água, moça bonita de cabelo loiro e olhos azuis, senão na segunda metade do século XIX. Mas daí para cá, são inúmeros os relatos.
Em Portugal, de onde nos veio o mito, há duas designações para essa personagem mítica: no litoral do continente, Sereia. E, no arquipélago dos Açores, Feiticeira Marinha. As cantigas populares fazem referência a uma ou a outra:
"Lá no meio desse mar
saiu-se a senhora Sereia
lá no palácio d'el rei"
E nos Açores:
"Escutai se quereis ouvir:
ouvi um rico cantar;
devem ser as Marinhas
ou os peixinhos do mar."
Para nós, a Mãe D'água, apresenta-se sob diferentes nomes e formas e até mesmo sexo: Iara, Iemanjá, Boto.

IARA, RAINHA DOS RIOS
A Sereia Brasileira, atende pelo nome de Iara e vive no fundo os rios, à sombra das florestas virgens. Conta a lenda amazônica que uma noite um índio sonhou com uma bela mulher de cabelos loiros, olhos azuis e pele muito clara. Tal fada estava à entrada de um imenso castelo de cristal recoberto de ouro e safiras de onde vinha uma música celestial. O jovem apaixonou-se à primeira vista e ouviu a linda mulher lhe propor amor eterno. Um dia navegando pelo rio, o índio viu formar-se sobre as águas uma choupana e, por detrás da janela, apareceu a mulher de seus sonhos que lhe sorria. Apaixonado e enfeitiçado foi até a choupana que flutuava sobre as águas. O pai do índio pode ver que o corpo da mulher tinha uma cauda, igual a de um peixe, e que, agarrando seu filho, se jogou na água, mergulhando para nunca mais voltar.
Alguns indígenas e caboclos juram já ter visto a Iara, como passou a ser chamada. em muitos rios e igarapés. A crença neste mito é tão grande, que, pelos lugares em que mora a Iara, segundo a tradição, ninguém tem coragem de passar em determinada hora da tarde. Em algumas ocasiões, comenta-se, ela mostra-se com pernas para logo em seguida transformar-se em sereia. É nesta forma que atrai suas vítimas. Para livrar-se do poder de sedução de Iara, aconselham os indígenas, deve-se comer muito alho ou esfregá-lo por todo o corpo.
Numerosas são as lendas em torno de Iara, seus encantamentos e artimanhas. É o mito que mais inspirou poetas brasileiros. José de Alencar, por exemplo, incluiu no romance "O Troco de Ipê" um conto sobre a mãe-d'água, em que figura um palácio de ouro e de brilhantes no fundo do mar.
O simbolismo mais conhecido da sereia é o da sedução mortal. Com toda certeza, ela é uma tentadora (" As asa da sereia são o amor de uma mulher, que está pronta a dar e a retomar", escreve Pierre de Beauvais). Mas a paixão inflamável que ela inspira é perigosa, porque provém do sonho e do inconsciente, e por isso é sonho insensato, fantasma irreal. Para preservar-se da paixão ("o amor é cego!"), é necessário, como Ulisses agarra-se à dura realidade do mastro. Sob a influência egípcia, na qual a alma do morto era representada na forma de pássaro com cabeça humana, a sereia se tornou a representação simbólica da alma do morto que falhou em seu destino e transformou-se em vampiro devorador.
ARQUÉTIPO DA TRANSFORMAÇÃO
No livro de M. Esther Harding, "Os Mistérios da Mulher", está descrita uma impressionante associação entre as fases da lua com as fases da deusa. A cada fase da lua, conta, a deusa veste um diferente traje de escamas, que é o traje de seu instinto.
Os peixes eram dedicados a Atárgatis, a deusa lua de Ascalon, uma das formas de Ishtar, que era algumas vezes representada com rabo de peixe. Esta representação refere-se a extrema inconsciência do instinto feminino. Aqui a satisfação do instinto é essencial, não importando as conseqüências do tal ato.
O aspecto deusa-sereia corresponde ao período da Lua Escura, onde ela está inteiramente sob o domínio do instinto. Esta fase pertence à esfera dos mistérios da mulher e, para um homem olhar para a ela nestes dias, significa "doença e morte", pois estará agindo como fêmea, desprezando qualquer consideração humana. É a "Viúva Negra" nos seus melhores dias. Muitas mulheres não estão conscientes do poder desta qualidade feminina e então, um efeito desastroso pode ocorrer em virtude de sua desatenção ao papel de destruidora de seu amor. Mas há também algumas, que conscientes do seu poder sobre os homens o usam inescrupulosamente para vantagens pessoais. Para aceitar o poder desta Lua, sem se deixar sucumbir a ele, é necessário autodisciplina e sacrifício do auto-erotismo.

Uma mulher que se confronta com tais aspectos na escuridão de seu coração pode aprender a lidar melhor com este conflito em vez, de tornar-se responsável de atitudes irreconciliáveis e opostas. Em verdade, esta energia instintiva se transformará em algo bom e utilizável na vida. Esta energia fluirá naturalmente em seus relacionamentos aprofundando-os, ou pode tornar-se um escape direcionado à um trabalho criativo, ou ainda, suprirá a força motriz que torna possível a construção de uma personalidade mais completa, fundamentada tanto no lado sombrio quanto no aspecto luminoso.
Rosane Volpatto
Bibliografia consultada
Os Mistérios da Mulher - M. Esther Harding
Bibliografia do Folclore Brasileiro - Braulio do Nascimento

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