quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

LENDAS CATÓLICAS - "" O NATAL ""

Onde nasceu Jesus?
Jesus não teria nascido numa gruta, rodeado pelo boi e o burro, mas sim no deserto, embaixo de uma palmeira. E Maria estaria completamente só na hora do parto. Além disso, o nascimento teria sido em março ou abril, e não em dezembro. Este artigo estuda as mais diferentes versões a respeito do nascimento de Cristo. Analisa ainda as influências mitológicas nos Evangelhos. Aqui estão ainda o mito e a realidade, o sentido cósmico e o espiritual do Natal.

O Natal é uma festa cristã que envolve problemas históricos insolúveis. Sabe-se hoje, com certeza absoluta, graças à pesquisa, que Jesus não nasceu no dia 25 de dezembro, nem no ano indicado como o início da era cristã. Não obstante, a tradição religiosa consagrou a data escolhida para a celebração natalina. Por outro lado, há um fundamento mitológico para essa escolha, que de certa maneira supre a falta dos elementos históricos.

A Mitologia é a mãe da História. Antes que os homens inventassem a medida do tempo e começassem a contar a passagem das luas e dos sóis, o passado se perdia no mundo das lendas. Jesus nasceu na fase de transição entre a Mitologia e a História. E foi a partir do seu nascimento que a História se definiu.

Mas a Mitologia manteve os seus direitos sobre o seu nascimento, conservando-o nas névoas do mito.

As investigações históricas provaram, posteriormente, a existência real do homem Jesus. Mas o Menino Jesus foi retido nos domínios do mito, como uma espécie de refém divino envolto em poesia.

Renan, que é o pai de toda a investigação moderna sobre Jesus e o cristianismo, começa sua Vida de Jesus contestando o lugar de seu nascimento. Afirma sem rebuços: "Jesus nasceu em Nazaré, pequena cidade da Galiléia, que antes desse nascimento não tinha nenhuma celebridade". E demonstra com dados históricos que o recenseamento de Quirino, citado nos Evangelhos de Lucas e Mateus, foi pelo menos dez anos posterior ao nascimento de Jesus. Belém era a cidade de Davi e Jesus devia nascer ali, segundo as profecias. Renan comenta: "Para fazê-lo nascer em Belém foi necessário recorrer a uma manobra bastante embaraçosa".
Charles Guignebert, professor de História do Cristianismo, na Sorbonne, e o mais penetrante investigador dos últimos tempos, reafirma em nossos dias a tese de Renan, comentando: "Na realidade, supõe-se primeiro, e depois se obtém a certeza de que o redator pôs todo o empenho em encontrar um meio de fazer José e Maria irem a Belém, porque desejava que Jesus nascesse ali". Mas Guignebert justifica essa manobra, levando em consideração as condições culturais da época e a mentalidade mitológica dominante.



O mito solar

A Mitologia nasce das águas da cultura primitiva, do folclore, como Afrodite nasceu das águas do mar. As lendas e as crenças dos povos selvagens se aprimoram e se racionalizam na estruturação mitológica da realidade. É a garra da razão apropriando-se do real. O que podemos chamar mentalidade mitológica difere tanto do nosso racionalismo quanto este difere do intuicionismo que já desponta em nossa era.

Na mentalidade mitológica a imagem do mundo é feita de símbolos anímicos. A alma do homem se transfere às coisas e lhes dá uma vida factícia que se transforma em ilusão vivente. Por isso, quando Mateus e Marcos localizam erroneamente o censo de Quirino em seus Evangelhos, não o fazem com segunda intenção, mas obedecendo às regras do raciocínio mítico. O rigor cronológico não existe nesse raciocínio, que segue naturalmente as leis da fisiologia do mito, segundo a teoria de Huntersteiner. Nascido na era mitológica, o cristianismo tinha por destino romper a casca do ovo e implantar a era da razão. Mas teve primeiro de se enlear nas membranas do mito. A carga mitológica da Bíblia, das velhas escrituras judaicas, quase sufocou o Novo Testamento. Por isso os mitólogos insistem, até hoje, em considerar o cristianismo como simples episódio mítico derivado diretamente do mito solar. Só a investigação histórica conseguiu, a duras penas, refutar a nova mitologia dos mitólogos modernos.

A concepção mitológica do Natal é um primor de imaginação. Na Europa e na Ásia o inverno rigoroso parece extinguir a vida. Os campos morrem sob a neve. Mas nos últimos dias a constelação da Virgem começa a aparecer no céu. De repente, ela dá nascimento ao Sol, que faz ressuscitar a vida e traz em seus raios a promessa da volta das colheitas. É o messias que nasce da virgem para salvar o mundo.

Jesus nasceu no Oriente porque é lá que nasce o Sol. Sua mãe era virgem antes do parto e continuou depois do parto, porque a Virgem celeste não se altera com o nascimento do Sol. Assim como o Sol nasce cercado pela esperança dos pastores e dos animais, assim nasceu Jesus. Mais tarde o Cristo sairá a semear para que as plantações renasçam. E da mesma maneira que o Sol é cercado pelos 12 signos do zodíaco, ele andará acompanhado pelos 12 apóstolos. E a sua morte, como a de Osiris, o deus egípcio, será o sangrento desaparecer do Sol, crucificado e coroado de espinhos, no último crepúsculo do outono.

Em 1794 já Dupuis lançava na França o seu livro Origines de tous les Cultes, em que apresentava Jesus como um mito solar. Mais tarde a sente germinou com intensidade na França e na Alemanha. Quando em 1924 Couchoud publicou em Paris “Le Mystère de Jesus”, restabelecendo o mito, procurou entretanto evitar os exageros de Dupuis, que haviam provocado de Perez uma réplica espirituosa, na qual demonstrava que Napoleão, com seus 12 generais, podia também ser interpretado como mito solar.
Na Alemanha, Arthur Drews, professor de filosofia em Carlsrhue, provocou com o seu livro “O Mito de Jesus”, lançado em 1911, um tumulto cultural, que se reavivou em 1924, com a nova edição aumentada e atualizada do livro. Guignebert e os historicistas em geral consideram essa interpretação mitológica como bastante engenhosa. Não obstante, reconhecem a influência mitológica na redação dos Evangelhos e na elaboração dogmática da fé cristã.



O mito do Natal

O Natal tradicional, tirado dos relatos dos Evangelhos Sinóticos, é inegavelmente mitológico. Por isso mesmo está revestido de intensa poesia e desperta naturalmente nossas mais profundas emoções. Na era mitológica, em que essa lenda foi divulgada, seu papel tornou-se fundamental para a vitória do cristianismo. Ela se constitui de uma constelação de elementos míticos derivados de duas culturas em fusão: a judaica e a grega. Numa e noutra os arquétipos coletivos de Jung aparecem como a seiva que vem das profundezas do espírito. Suas raízes se perdem no imemorial e nos transmitem o magnetismo de um passado mágico, de veios remotos de forças ancestrais procedentes de estratificações emotivas sumerianas egípcias e babilônicas.

O primeiro elemento mítico do Natal tradicional é o nascimento virginal de Jesus. Ligado aos tempos primitivos e às primeiras civilizações agrárias, o nascimento virginal não provém apenas do mito solar, mas também das práticas mágicas de fecundação, que marcaram os tempos mais remotos e impregnaram poderosamente toda a civilização judia. Como o demonstra Saint Yves, em “As Virgens Mães e os Nascimentos Miraculosos”, essas práticas mágicas livravam as virgens da vergonha da esterilidade. A Bíblia está cheia de relatos de casos desesperados em que jovens e mulheres estéreis recorriam a todos os expedientes possíveis para se fazerem mães.

O segundo elemento mítico do Natal é o nascimento de Jesus em Belém da Judéia e pertence à mitologia hebraica. O messias devia ser judeu e descender da linhagem de Davi, como já vimos. A Galiléia era então chamada Galiléia dos Gentios, pequena e desprezível província infestada pelos goyn, ou seja, pelos estrangeiros impuros. O tabu da pureza racial e o mito solar em sua forma messiânica estão presentes nessa lenda. O terceiro elemento mítico é a gruta em que Jesus nasceu, num estábulo de inverno, cercado pelos animais. Este elemento tem pelo menos uma conotação real importante, pois os estábulos de inverno eram comuns na Palestina. Mas qual o mito que não se enraíza em dados reais? O quarto e o quinto elementos são os anjos cantando no horizonte a anunciação aos pastores e a estrela que orienta os Reis Magos através do deserto. Ambos derivam das fábulas mais antigas de toda a Ásia. O sexto e último elemento é a matança dos inocentes por ordem de Herodes, o Grande, marcando com a magia do sangue o início de uma vida que devia findar-se com o resgate dos pecadores através do sangue derramado na cruz.
Todos esses aspectos mitológicos não invalidam o fato real do nascimento de Jesus, pois as provas históricas da sua existência como homem e da sua influência na transformação do mundo são hoje inegáveis. Mas transferem o nascimento de Jesus do plano histórico para o mitológico.
Os pesquisadores históricos não dispõem de elementos para sequer esboçar um quadro do nascimento real de Jesus, em Nazaré. Mas Guignebert toma uma passagem de Paulo, em sua carta aos Gálatas (4,4), para mostrar que o nascimento de Jesus era considerado natural pelo apóstolo dos gentios. Diz essa passagem: "Quando os tempos se cumpriram, Deus-enviou seu filho, nascido de uma mulher, nascido sob a lei, a fim de que ele resgatasse todos os que estavam sob a lei".



Renan já assinalara que o nascimento de Jesus em Nazaré ocorrera naturalmente na casa humilde de uma família pobre. Nesses casos a criança nascia, em geral, segundo as informações sobre os usos e costumes da época, sem complicações. Os partos eram fáceis e considerados como motivo de grande alegria, pois Deus abençoava o lar com a fecundidade da mulher. Na maioria das vezes não era necessário o concurso de uma parteira, pois a própria mãe sabia, por instinto e por aprendizado doméstico, como fazer em tais ocasiões. Jesus era o primeiro filho do carpinteiro José e de sua esposa Maria, segundo a tradição, bem mais moça que ele. As alegrias de um lar humilde estão bem distantes do esplendor meteórico do nascimento na gruta de Belém, onde a pobreza da gruta contrastava com a riqueza das manifestações angélicas no horizonte e da estrela que viera pairar sobre o local.

Para a mentalidade mitológica da época esse nascimento obscuro não corresponderia à encarnação do Verbo, do messias salvador do mundo. Mas, para a mentalidade histórica e positiva do nosso tempo, há mais grandeza nessa simplicidade do que nas descrições mirabolantes dos Evangelhos. A simplicidade da vida de Jesus, segundo os próprios relatos evangélicos, se torna mais coerente com esse nascimento obscuro. Há também maior coerência entre esse nascimento e a morte do messias rejeitado, no Monte das Caveiras, entre dois condenados comuns.

O Natal histórico de Jesus, tão desprovido de aparatos, concorda melhor com a sua pregação de desapego aos valores terrenos E há mais beleza nesse menino humilde, que nasce para conduzir os homens a Deus, do que no menino mitológico levado a nascer na cidade de Davi, para assim se beneficiar com a falsa grandeza de um rei terreno, introduzindo-se à forma na sua genealogia, na verdade pouco recomendável ante os preceitos cristãos.

Toda a poesia lendária do nascimento mitológico se apaga diante dessa humilde poesia de Nazaré. Em que dia se deu esse nascimento? A Igreja, depois de instituída, vacilou na escolha. Tentou fixá-lo em janeiro, depois em abril, mas por fim teve de optar pelo dia 25 de dezembro, consagrado, através dos séculos, ao mito solar. Os relatos mitológicos ajustavam-se bem a esse dia, como vimos, embora deformando a figura real de Jesus.





O Natal islâmico

A religião islâmica nasceu do judaísmo e do cristianismo. Maomé considerava o islã como a religião superior e universal. O próprio Deus fala no Corão, que é a Bíblia do islamismo, através do anjo Gabriel, que ditou mediunicamente o livro ao profeta analfabeto. O Natal de Jesus reveste-se, no Corão, de aspectos inteiramente novos. Mas os maometanos não o celebram.
Vejamos o texto corânico a respeito:
Louva a Maria no Corão, celebre também a sua família e o dia em que se afastou dela para o Oriente. Tomou às ocultas um véu para cobrir-se e lhe enviamos o anjo Gabriel, nosso espírito, encarnado num homem.
Ao vê-lo, não o conhecendo, Maria exclamou - A misericórdia é o meu refúgio. Se temes a Deus . . .
O anjo lhe disse - Sou o enviado do teu Deus e venho anunciar-te um filho bendito.
- De onde me virá esse filho - retrucou a virgem - pois nenhum mortal se aproximou de mim e desconheço o vício.
- Não obstante, o filho virá - replicou o anjo - pois a palavra do Altíssimo assegurou o milagre, que não é difícil. Teu filho será um prodígio e a felicidade do universo. Esta é a ordem do céu.
Maria foi fecundada e retirou-se para um lugar afastado. As dores do parto a surpreenderam junto a uma palmeira e ela exclamou -Deus quis que eu morra esquecida e abandonada dos homens, antes de conceber.
O anjo lhe disse - Não te aflijas, Deus fez correr um arroio aqui perto de ti. Sacode a palmeira e cairão frutos maduros. Come, bebe, enxuga o pranto e se alguém te interrogar, responde - Fiz um voto ao Misericordioso e hoje não posso falar a nenhum homem.
Maria regressou ao seio da família levando Jesus nos braços. E lhe disseram: "Maria, aconteceu-te uma estranha aventura! Irmã de Aarão, vosso pai era justo e vossa mãe era virtuosa!"
A essa repreensão ela fez um sinal para que falassem à criança, mas lhe perguntaram: "Falaremos a uma criança de peito?" O menino respondeu: "Sou o servidor de Deus. Ele me deu o Evangelho e me nomeou seu profeta. Sua bênção me seguirá per toda parte".



A todas essas formas do Natal se sobrepõe o Natal espiritual, o significado milenar do dia 25 de dezembro, impregnado pelas vibrações de adoração ao messias, que vêm das profundezas do tempo, do seio das civilizações desaparecidas. A substância do Natal é a presença do Cristo no coração e na mente do homem, desde que ele existe na Terra.

Essa a conclusão a que chegaram todos os grandes pesquisadores da história do cristianismo, desde Renan até Guigneliert, passando por Harnack, Loisy, Goguel, Murphi e tantos outros, nos grandes centros universitários do mundo. Há o Natal formal das igrejas, mas há também o Natal dos corações.



Texto de Herculano Pires

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